Dia 15 de novembro. Data que para os brasileiros
marca a partir de 2012, além do feriado de Proclamação da República, o Dia
Nacional da Umbanda. Foi em 16 de maio deste ano que a presidenta Dilma Roussef
sancionou a lei nº 12.644 que instituiu esta data como sendo comemorativa à
Umbanda. Qual é, então, o significado deste dia?
Para nós, umbandistas, antes de tudo, é o
“aniversário” da Umbanda, uma religião legitimamente brasileira, surgida em
1908, no Rio de Janeiro, que congregou elementos da religião católica, das
crenças indígenas, do culto aos orixás de herança africana e do Espiritismo.
A
prática da Umbanda é desenvolvida em Templos, Centros, Tendas ou, como é mais
conhecido, nos chamados Terreiros. É neste local onde os umbandistas se
encontram para realizar suas sessões, praticar doutrinas e trabalhos
espirituais por meio da incorporação dos seus guias e entidades, os espíritos
de luz. Sua ritualista é peculiar, marcada por canções denominadas
pontos e, muitas vezes, acompanhadas pelo toque do tambor.
O significado da palavra Umbanda está ligado à arte de curar. De acordo com os registros
e com a tradição, esta religião teria sido fundada exatamente no dia 15 de
novembro de 1908 por um jovem rapaz de 17 anos de idade chamado de Zélio
Fernandino de Moraes que, em um templo Espírita carioca, incorporou o Caboclo
das Sete Encruzilhadas. Esta entidade espiritual s apresentou com o objetivo de
falar aos humildes, simbolizando assim a igualdade que deveria existir entre
todos os irmãos, encarnados e desencarnados.
O resultado não foi uma “mistura” desordenada, mas
uma religião original, nova, diferente, que atendia principalmente aos anseios
de devoção de uma parcela da população excluída socialmente. Sob a bandeira do
amor e da caridade, trazia conforto e consolo aos marginalizados, em sua
maioria formada por negros, mulatos, descendentes de escravizados e
ex-escravos, e brancos, pobres brasileiros ou imigrantes.
A Umbanda é identificada como uma religião que faz
parte dentre aquelas de “matriz” africana, por crer nos orixás como forças
divinas que regem as linhas espirituais invocadas na sua ritualística. Desde o
início esteve muito ligada e identificada com os cultos afro-brasileiros. Sofreu
preconceitos e discriminações por grande parte da sociedade, inclusive por
setores políticos do país. Foi proibida, perseguida e recriminada por muito
tempo, sendo responsabilizada pela ignorância do povo.
Por ser uma prática religiosa livre de dogmas e
leis preexistentes, a Umbanda não possui nenhum livro sagrado, todavia busca na
contemplação da natureza e no contato com o mundo espiritual o seu Sagrado. A
literatura umbandista é crescente e ganha cada vez mais reconhecimento no
mercado editorial brasileiro, pois tais obras são referências de manifestações
de fé, de práticas rituais, de energizações, de palavras que conduzem o amor ao
próximo e, principalmente, de estímulo a uma vida com humildade e muita paz.
Portanto a lei 12.644, hoje assume um papel
político importante na legitimação da nossa religião, no reconhecimento da sua
peculiaridade nacional e na garantia de respeito público à prática religiosa. Um
motivo de orgulho para todos nós, umbandistas, ainda hoje vítimas, na nossa sociedade, de olhares
desconfiados e de expressões evidentes de intolerância. Para os brasileiros –
independente da religião – é oportunidade de refletir e buscar conhecimento sobre
a Umbanda, desconstruindo mitos em torno de suas práticas, por muito tempo taxadas
de “perigosas” ou “maléficas”, quando na verdade a Umbanda prega a paz, o amor
e a caridade.
O Dia Nacional da Umbanda significa, então,
comemoração, valorização e reconhecimento de uma expressão de religiosidade
brasileira: um passo importante para o crescimento do respeito à liberdade religiosa
no país.
(Uma versão mais suscinta desse texto, foi escrita pelo Mauro e Fernando e publica no jornal: DILLMANN, Mauro; RIPE, Fernando. Dia da Umbanda, Jornal VS, 16 de novembro 2012).
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